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04 março 2013

detalhes de uma semana...


Durante muito tempo quis sair de casa dos meus pais. E consegui. Vir morar para Lisboa no início significava muito boa vida, muita saída à noite, muitas jantaradas, dias e dias a passear pela cidade, putedo dia e noite. 

Depressa percebi que isso não ia acontecer. Se passeei pela cidade... acho que foi uma vez logo nas primeiras semanas, a boa vida (graças à minha promoção) nunca chegou: raramente saio à noite, raramente faço jantaradas, logo não há putedo dia e noite. Nunca houve realmente boa vida. 

Mas algo ficou sempre bastante claro: foi a melhor coisa que aconteceu. Sair de casa dos pais. 

Foram precisos 9 meses para querer voltar atrás. Querer voltar a ter uma vidinha simples, sem responsabilidade, preocupações. Comida na mesa e amigos à volta. 

Motivação é uma coisa que não é servida às colheres. Motivação é uma coisa que não nos é dada. Tem de partir de nós. Esta semana foi uma batalha para conseguir motivação para me levantar da cama e ir trabalhar sequer. É o segundo mês consecutivo em que por dia, no trabalho, faltam uma ou duas pessoas, sobrecarregando todos os outros. E no domingo passado fui acusado por uma vendedora (hierarquicamente abaixo de mim) de roubar. Esta tamanha injustiça mexeu muito comigo. Primeiro, por ser injusto. Segundo, por mexer com a minha credibilidade perante uma equipa. Terceiro, porque a equipa que pensei que estivesse lá por mim (a minha equipa de chefes que trabalham ao meu lado todos os dias, por aqueles que sacrifico diariamente as minhas horas extras e muito mais) não esteve. 

A menina, menina sim. Achou por bem emboscar-me acusando-me de roubo não foi muito inteligente. Eu fui alertado para o que ela iria fazer muito antes de ela o fazer. E ela começou a jogar um jogo do qual eu estava muito ciente. Deixei esse jogo rolar. No final do dia ela escreveu em relatório as suas acusações e eu guardei o relatório. No dia a seguir, na minha folga, fui à loja expor o caso à minha gerente. A única pessoa que me apoiou, claro. Junto demos uma grande 'foda' à menina. Mas mesmo assim, sabia que o assunto não morreria por ali. E sei que não morreu. Fiz um esforço para seguir em frente e para continuar a ser o que era profissionalmente. 

Mas a motivação, assim como a semente do demónio que a menina plantou, apunhalaram-me fortemente. E o gosto pelo trabalho, pela equipa, esmoreceu. Foi a pior semana de trabalho que tive e isso contaminou tudo o resto. Apeteceu-me voltar à minha antiga cama. Àqueles dias em que passava trancado no quarto da casa dos meus pais sem ninguém com quem falar. Acordar, almoçar, vaguear na net. E pouco mais. 

No Sábado... ela voltou a fazer conversa com os colegas. Neste momento já todos sabem que ela me acusa de roubo. Todos sabem a sua versão. Mais uma facada à minha motivação. Vais uma vez recorri à minha gerente e disse-lhe tal e qual como as coisas são. Uma primeira vez fui benevolente e segui em frente e continuei disposto a trabalhar com a menina e disposto a ensinar-lhe tudo o que pudesse. Uma segunda vez de conversa e já me começava a cair muito mal. Uma terceira vez e exigirei que ela saia da loja. 

A minha gerente foi simpática o suficiente e convidou-a a ir para outra loja, se quisesse. Eu fui ainda mais simpático e dispensei-a mais cedo para ela poder ir para casa pensar. 

Infelizmente a folga passou, não estou em casa dos meus pais. Não me posso proteger debaixo da fraca alçada deles. Não. Amanhã terei de ir trabalhar mais um dia.