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21 julho 2010

Entre a Espada e a Parede [kind off]

Estou entre a espada e a parede há meses, desde que me assumi cá por casa. A relação com os meus pais melhorou relativamente, desde então. Eles pura e simplesmente não falam nisso e como antes também já não falávamos muito, é como se as coisas tivessem voltado ao normal – prova disso é o comportamento da minha mãe que prevê a minha morte cada vez mais lenta e dolorosa, uma vez que não como nada. Com o meu irmão, as coisas mantém-se: continua a não falar comigo – apesar de uma das suas tentativas ter resultado num grotesco grunhido que mais parecia uma ‘sou eu’ –, evita os mesmos espaços do que eu, evita jantar em casa, recusa-se a comer os meus cozinhados – que por acaso são maravilhosos –, deixou de usar a minha roupa e proibiu-me expressamente de usar as suas coisas – revelação: a homossexualidade é contagiosa. Depois da inútil tentativa de “obrigar” os meus pais a expulsar-me de casa, acho que surgiu um rancor e uma competição maiores – hetero VS gay – em tentar ser um melhor filhos e principalmente ser o primeiro a sair de casa. Sejamos honestos, já está na idade de sair de casa.

Mas a mim também não me sai da cabeça. Sair de casa. Abandonar esta vida precária de solidão, em que tenho de apresentar justificações, que são sempre insatisfatórias, para tudo – cartas, mensagens, telefonemas, etc. Tenho de usar truques inoportunos, chatos e ridículos para sair de casa e poder regressar sem problemas. Esses truques têm como intermédio os amigos heteros, de preferência com mamas – revelação: os vais vão tentar de tudo para nos converter às vaginas ou pilas do demónio. Viver cá em casa tem sido uma situação incrivelmente horrível de solidão, daí querer sair de casa!

Portanto, enquanto não posso sair de casa de vez, tenho de sair momentaneamente. Todos os dias tenho ido fazer exercício com os meus amigos travestidos e heterossexuais para o circuito de manutenção de Cabeço de Montachique (nome interessante) e o resultado é ter o corpo todo dorido mas conseguir-me abstrair por uns momentos. Mentira! É o preço para ter um rabiosque porno!

Na semana passada saiu finalmente o chamamento para ir a concurso na câmara municipal. Mas esta semana recebi uma carta do centro de emprego, para ir a uma “reunião” do exército português (e se não for sou excluído do centro de emprego). O que neste momento, graças à minha capacidade para sofrer com antecedência, me deixa num dilema, entre a espada e a parede:

A posição na câmara é na minha área, mais vão mais 60 a concurso. A escolaridade que pede é o 12º ano, apesar de eu ter um ano na faculdade com muitas cadeiras apropriadas à área a que me candidatei (história da pintura, história da fotografia, design, computação). Mas a pergunta é… será suficiente? Uma estúpida voz diz que sim e outra diz que não.
Ir para o exército pode comprometer a minha candidatura na câmara, uma vez que vem antes da entrevista desta. Além disso, sempre disse que não. Não ao exército, sou uma bicha orgulhosa! Mas quero tanto sair de casa e acabar os estudos, que o exército até me parece uma opção razoável ou até muito boa. Mas é o exército, Incubadora de Heterossexuais! E se eu não gostar, se não conseguir dar conta do exercício físico que nos exigem, e se, e se, e se…

O meu eu está a ser invadido por vozes, vozes, vozes. Prós e contras, certezas e incertezas… Shut up, shut up, shut up…!

4 comentários:

Luís disse...

Nunca tinha cá comentado, mas de vez em quando passo cá para ler. Decidi comentar neste post para deixar uma palavra de força! - pronto, aí está, FORÇA! A vida é bem dificil por vezes, e a parte do sair de casa pode não ser nada fácil, mas é muito muito bom e libertador. Se tiveres que ir para o exército, não há de ser o fim do mundo e sempre é uma oportunidade de mudança! ;)

Mark disse...

Vais ser militar? Que máximo! Acho giríssimo, 'tá a ver? :)

Boa sorte na "tropa". ;)

Unknown disse...

Sinceramente vida militar não me parece ser a tua cena, mas quem sou eu para te conhecer?

Acho que deves ponderar ambas as situações, ver os prós e contras.

Boa sorte.

João Roque disse...

Perante as opções difíceis, há sempre uma reflexão a fazer, pesando os prós e contras e visando objectivos, a curto ou médio prazo.
Espero que a tua decisão, que só tu tens que tomar seja a mais apropriada para a tua felicidade.