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02 agosto 2009

2.08

Todas as manhãs eu levo um rolo de sacos transparentes para a minha caixa...
Se ontem era gente e gente de pessoas nas caixas, hoje foi um sossego. às 8h30 entrou 'meia-dúzia' e às 9h00 fecharam-me a caixa. Podia ir lavar cestos para os fdp dos clientes o poderem cagar, cuspir, pisar mais uma vez. Depois chamaram-me e eu tive de ir para o café. Das 9h10 às 11h20 a lavar loiça, loiça, loiça. Loiçaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa. Fui buscar aqueles carros enormes onde se metem tabuleiros com os dejectos da nossa podridão humana 3 vezes consecutivas. A senhora da limpeza teve a simpatia de me trazer outro. E tive sempre a lavar loiça. Fugi da estupidez dos clientes, passei a aturar a estupidez dos colegas. É que estava lá um a dizer que não podia passar as chávenas muito tempo por água. Aliás que mal era necessário passar por água. Mas é necessário passar por água. Mas ele continuou a dizer e a dizer e eu já me estava a passar! Depois às 11h20 fui ajudar no restaurante porque estava uma mulher sozinha, SOZINHA, a um domingo, responsável pelo restaurante inteiro. Maldita a hora que o fiz, não o tenho de fazer. Fui cortar tomates. Tomates, Tomates, Tomates. Tomatesssssssssssssssss. A única coisa gira, que amanhã ou depois quando estiver in peace, vou poder rir é da máscara e da touca brancas que usava e da luvazinha channel nº 5 azulinha. Parecia uma linda enfermeira da Anatomia de Grey e a faca era o meu bisturi e os tomates eram a minha zona de operação. Já me doía a nuca. Quando os tomates acabaram, misteriosamente surgiram mais e mais e mais. E eu continuei. Depois fui buscar pão e resisti à vontade de cuspir para lá para cima e esperar que metade daquela gente apanhasse uma constipaçãozinha. Não o fiz, mas se tivesse sido esta tarde, garanto-vos que fazia. E depois fui servir pratos. O raio da mulher tinha tanto para fazer n percebo porque não me deixou em paz. É que não podia dar mais do que um quadrado de bacalhau, não podia dar mais do que três pedacinhos de carne assada, quatro se fossem muito pequeninos. E ficou lá em cima de mim. Mas eu estava-me a cagar. Não ganhava mais por isso e aquela gente estúpida e faminta parecia desejosa de comer almoços que já estavam quase prontos para ir pó lixo.
Às 12h20 vieram-me buscar para ir almoçar. Uhh que pena. Fui almoçar e um dos filhos da mãe do café também foi. Perguntou-me se queria ir para o café a full time. Tá parvo o homem. Depois daquilo. Disse-lhe que tinha de pensar (meaning... NÃO!) prefiro, ou preferia na altura ser saca de batatas dos clientes, a ser saca de batatas dos colegas. Quando voltei do almoço fui para a caixa, finalmente. Estava tudo a correr lindamente, claro. Tinha sempre o colega da frente que era novo a perguntar-me 'Que meloa é esta?' pelo que assim que uma rapariga veio para a minha caixa aprender e eu lhe disse para começar a passar, fui buscar duas meloas e expliquei-lhe como se fosse muito burro, que a LISA era a Meloa Gália e a RISCADA era a Meloa Cataloupe. Simples.
Não me lembro o que aconteceu depois. Só sei que se estava a formar filas e como ela se estava a desenrascar na minha caixa fui pedir para abrir noutra. Só para despachar. E abri. E a coisa se começou bem... não podia ter acabado pior. Veio um senhor todo engravatado e com a mania da superioridade... o saco dos pêssegos rompeu-se e eu perguntei se se tinha rompido. Tinha sacos transparentes e podia trocar. Não sei o que ele bebeu, fumou ou injectou. Mas ficou todo possesso, todo enervado, irritado e entrou logo na defensiva. Aparentemente, como ele me fez saber, aos berros arrogantemente, eu estava a acusá-lo de roubar o que quer que seja. O que foi logo uma bofetada na tromba, porque eu sei que há gente que rouba. E sei isso... mas essa não é a minha função e eu dou o benefício da dúvida. Se reparasse algo que ele estava a esquecer de meter no tapete mágico, mas não. É que nem lhe disse nada. Além disso só o queria ajudar: se o saco estava roto eu dava-lhe outro e viviamos felizes para sempre. Mas não. Ele começou a acusar-me de que o estava a acusar de roubo, que era inadmissivel e muita merda que ele disse, que neste momento o meu cérebro bloqueou. E eu voltei a TENTAR explicar-lhe, bruscamente que o SACO estava ROTO e eu podia TROCAR. Se o senhor não queria que TROCASSE, eu não TROCAVA. Dito isto atirei o saco para dentro do outro saco das compras e esperei que me pagassem, caladinho a relaxar dos nervos. Já tremia e o coração queria saltar-me pela boca, pegar numa embalagem de detergente e atirá-la à tromba do fdp. A mulher andou a brincar com cartão de multibanco... e o homem voltou com todo o putedo e arrogância possível. Que eu não era ninguém para falar com ele assim, e que se continuasse fazia queixa de mim. Expliquei-lhe novamente... e que se quisesse fazer queixa de mim fosse em frente. A puta da mulher deu-me o cartão de multibanco, e eu ao fim de três tentativas para enfiar o cartão lá o fiz. Basaram e eu estava... eu não sei. Indignado, Revoltado, Irritado, NERVOSO. Tremia por todos os lados. Um homem que no dia anterior tinha ido à minha caixa e tinha brincado comigo, pediu que me acalmasse. Dei-lhe o troco e ele foi. A mulher seguinte também me disse para acalmar, que não valia a pena. Nestas altura, nós não queremos que nos digam para acalmar... nós queremos que nos dêem uma pistola ou bomba para a mão para podermos matar o filho da puta. Meti a caixa a fechar (que nem sequer era minha e eu não tinha a necessidade). No fim do último cliente já tinha os olhos com algumas lágrimas. Uma das novas pediu ajuda e eu com esforço ajudei. Mas depois, fui em passo rápido a correr para a casa de banho. No caminho já tinham escorrido lágrimas e sei que houve quem visse. Não me importo de ser o rapaz das caixas que estava a chorar. Cheguei à casa de banho e chorei silenciosamente durante dois minutos. Lavei as mãos e fui, mas voltei atrás. E depois fui. E a minha tarde estava estragada. Depois mandei a rapariga nova sair da minha caixa e procurar outra puta que lhe ensinasse, sentei-me na minha caixa a trabalhar e voltei às práticas do costume: não olhar para o cliente, ser um robot (boa tarde, quer saco?, bom fim-de-semana, obrigado.), ignorar as crianças, mandar todos secretamente e na minha mente pó caralho.
P.S. - Se forem clientes do Pingo Doce.... eu odeio-vos. Se disserem como se divertem com os meus monólogos sobre o Pingo Doce... por favor não o façam.

7 comentários:

xavier. disse...

lalalallala

és tao mau!

Pedro disse...

Err... obrigado pelo post honesto. Levar com clientes mal educados num domingo de Agosto deve ser tão bom como apanhar com chuva torrencial no teu primeiro dia de férias ou teres cem pessoas à tua frente numa fila para te darem a porcaria de um cartão que nem farias questão de ter se não te obrigassem. So I feel for you.

BTW&FYI eu não sou cliente do PD mas a verdade é que gosto dos teus posts e me rio com a maioria deles. À excepção dos dois últimos, claro, que me fizeram deitar uma lagrimazinha de compaixão...

(NOT)

Pedro

Unknown disse...

Ok. Agora que o drama já passou até posso dizer que me diverti imenso a cortar tomates. Era só comentários porcos no meio dos outros colegas.

Foi um momento giro em que cada um partilhou o drama da sua secção. O nosso Pingo Doce ganhou o estatuto de melhor da região... à custa dos empregados, mas todos têm uma vida miserável lá dentro. Tirando um ou outro que só lá vai fazer uma visita.

Obrigado pelo teu comentário,
Pedro.

P.S. - Se tiveres blog... divulga-o :P

Pedro disse...

Nope, a minha vida não tem interesse que justifique um blog. ;) E mesmo que tivesse, duvido que houvesse paciência e entusiasmo para o manter por muito tempo, ou sequer actualizá-lo regularmente. Mas gosto de ler os das outras pessoas e comentar sobre assuntos que não me dizem respeito!

R_C_Y disse...

Eu também apanho clientes muito estúpidos, mas não sei porquê, a primeira reacção que eu tenho é olhar para o cliente que está atrás e começar a rir... LoL... Estou a falar asério, e continuo a fazer o meu trabalho como se não fosse nada comigo, pk também sei que se me enervo que ninguém me cala.

Pensa que não vais estar ali a vida toda...

Cumps

Unknown disse...

Pedro isso é bastante voyeuristico da tua parte.

Scaryyy xD

droide disse...

ok.. talvez não seja assim tão bom trabalhar para o pingo doce :\

gosto no entanto do registo tragico-comico do dia-a-dia de um caixa. continua, a serio