Uma fase acaba outra começa...

Hoje fui trabalhar. Ia pedir para mudar o meu horário de part-time de fim-de-semana para part-time de semana. Este ano não vou para a faculdade pelo que quero juntar dinheiro para o próximo ano. A melhor altura para falar com a chefe é quando ela nos vai fazer a caixa. Acontece que não tive sequer essa oportunidade porque fui despedido 1h30 ou mais antes. Fui eu e mais um colega ao escritório, onde a chefe foi directa ao assunto. Percebeu-se que ela estava... cabisbaixa, ou simplesmente é fingida e não sabe lidar com as más notícias. Antes de entrar soube que algo estava mal e já estava preparado para algo mau. Portanto, aceitei a notícia de cabeça erguida - se entrei de cabeça erguida, sairei de cabeça erguida.

Não sei explicar. Não, acho que não me sinto chateado: isto era só provisório. Contudo, ainda queria continuar lá, pelo menos mais um contrato. Depois disso pedi para ir guardar a carta que nos deu com os papeis para o desemprego. Passei por todos os meus 'amigos' do Pingo Doce e dei a notícia assim muito por alto. Uma lamexas começou a chorar, outra ficou incrédula e a outra disse para eu seguir em frente.

Estou frustrado! Através da ironia e do sarcasmo embelezei os meus textos sobre o Pingo Doce de uma forma engraçada e estúpida, quando na realidade eu me matava a trabalhar para poder concretizar objectivos, os meus objectivos: acabar a faculdade. Hm... lavar loiça, repor produtos, descascar tomates e frutos, repor sobremesas e bebidas, servir almoços, vender livros, lavar o chão, lavar os check-outs, ir buscar carros de compras e subir rampas, repor iogurtes, repor leite, levantar mesas e lavar mesas, quando a minha função é expressamente Operador de Frente de Loja, para depois ser despedido antes de concretizar os meus objectivos - acreditem é sem dúvida frustrante... e magoa.

Quando o meu contrato acabou na Worten, tal qual como agora, é inevitável pensar: 'será porque sou gay?'. Se na worten, sendo o meu primeiro emprego até possa ter dado motivos para ser despedido, duvido que no Pingo Doce os tenha dado. Portanto, começa tudo de novo - começamos a duvidar de nós, a questionar o nosso futuro, a questionar a nossa vida, a culpar-nos a nós e aos outros. A pergunta 'será porque sou gay?' torna-se inevitável. Será?

Eles não nos deram motivos. Mas depois perguntei novamente e só me disseram que tinha sido decisão dos chefes. Chefes incapazes que mal nos conhecem enquanto profissionais, pessoas, o que quer que seja, mas que nos julgam de qualquer das maneiras. Que nos julgam... o outro é preto e eu sou gay. Mas como é óbvio eles não vão dizer-nos o verdadeiro motivo. Se dissessem que era porque sou gay, então correriam o risco de serem processados. Nunca iremos saber o verdadeiro motivo - logo continuarei a duvidar de mim e das minhas capacidades, provavelmente até culparei a minha orientação sexual (com a qual estou completamente 'em paz e amor').

O que é que hei de fazer à minha vida? Procurar outro emprego, sujeitar-me à mesma exploração par dar no mesmo. Desempregado, as mesmas dúvidas, a mesma frustração.

E porque sabe bem pagar tão pouco,

uma fase da minha vida acaba enquanto que outra começa.

P.S. - Já derramei uma lágrimazinha quando pensei no meu futuro.